sábado, 20 de agosto de 2011

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queria dizer-te que sinto muita falta do teu colo. não tenhas pena de mim. não quero que tenhas. aliás nunca tiveste e é por isso que eu me encaixo no teu abraço como em mais nenhum outro. estás na minha cabeça todos os dias da minha existência. sem excepção. mas estás sobretudo no meu coração que esvazia a pouco e pouco. queria que me devolvessem a minha ingenuidade, queria que me levasses outra vez ao talho para comprar os bifes de perú e que me contasses repetidamente a história de todos os reis de portugal como sempre fazias. queria só ouvir-te mais uma vez a explicar-me porque se deve praticar o bem independentemente do mal que nos façam. queria ver-te escrever o teu nome com a tua letra tão bem desenhada e queria ouvir-te contar apaixonadamente a história dos teus pais e dos pais dos teus pais e dos nossos primos afastados que nunca consegui decorar. quando me punhas a mão no ombro era como se as mães todas do mundo abrigassem os seus filhos ao mesmo tempo. vou demorar a vida toda a decifrar esta saudade que mata devagarinho e que às vezes também é boa mas quase sempre sufoca. ainda hoje neste vazio imenso que me tapa só a tua lembrança conforta. um bocadinho apenas mas conforta. queria olhar para as tuas mãos outra vez. pensar admiravelmente nas histórias que os anéis contavam lá dentro dos teus dedos.

tenho tantas saudades tuas que quase sempre me esqueço de mim. de como eu era quando tu existias tranquilamente na minha vida e de como tudo era paz. talvez tenha saudade dessa ingenuidade que me roubam todos os dias porque é essa ingenuidade que me une a ti. nunca quis crescer e sempre quis crescer. no fundo sempre me foi indiferente desde que sentisse a tua mão no ombro.

sei que não sou má. não sei o quanto sou boa mas o que me assusta mais é cada vez querer saber menos disso.

e eu tenho tentado tanto.

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