sábado, 27 de agosto de 2011

"

perto do mato. atrás da porta. perto da ponte. atrás das águas.
na garrafa sou mensagem mar a dentro. depois da porta.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

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jurava nunca mais ser infeliz se amanhã acordasse com o teu telefonema.

e cumpriria.

sábado, 20 de agosto de 2011

you?

Charles Bukowski
Bluebird



there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?

primeiro dia de obras num sábado à tarde

porque há momentos em que a nossa casa adoece. primeiro aprodece o sotão e depois os bichos vão comendo tudo devagarinho até chegarem às unhas dos pés, o chão que lembramos sempre como a cozinha da casa da avó. e porque há momentos em que a casa se parte em dois de um sopro e ficamos metade para cada lado ali caídos como uma folha no outono. separa-se o branco do preto, o bem do mal, o amargo do doce e somos só meia gente como quem não termina as palavr.

a nossa casa tinha tanta vida quando ainda não tinha morrido de saudades. tomou um comprido para dormir e morreu como nos romances. só que não morreu, mumificou a fingir num instante contínuo. assim como um para sempre parado.

precisas de obras, pensas. e talvez tenhas razão.

é preciso abrir um buraco na parede para entrar o sol, caiar por fora. mudar o chão do quarto e não me venhas com essa desculpa moderna de que o dinheiro não chega para nada.

-

queria dizer-te que sinto muita falta do teu colo. não tenhas pena de mim. não quero que tenhas. aliás nunca tiveste e é por isso que eu me encaixo no teu abraço como em mais nenhum outro. estás na minha cabeça todos os dias da minha existência. sem excepção. mas estás sobretudo no meu coração que esvazia a pouco e pouco. queria que me devolvessem a minha ingenuidade, queria que me levasses outra vez ao talho para comprar os bifes de perú e que me contasses repetidamente a história de todos os reis de portugal como sempre fazias. queria só ouvir-te mais uma vez a explicar-me porque se deve praticar o bem independentemente do mal que nos façam. queria ver-te escrever o teu nome com a tua letra tão bem desenhada e queria ouvir-te contar apaixonadamente a história dos teus pais e dos pais dos teus pais e dos nossos primos afastados que nunca consegui decorar. quando me punhas a mão no ombro era como se as mães todas do mundo abrigassem os seus filhos ao mesmo tempo. vou demorar a vida toda a decifrar esta saudade que mata devagarinho e que às vezes também é boa mas quase sempre sufoca. ainda hoje neste vazio imenso que me tapa só a tua lembrança conforta. um bocadinho apenas mas conforta. queria olhar para as tuas mãos outra vez. pensar admiravelmente nas histórias que os anéis contavam lá dentro dos teus dedos.

tenho tantas saudades tuas que quase sempre me esqueço de mim. de como eu era quando tu existias tranquilamente na minha vida e de como tudo era paz. talvez tenha saudade dessa ingenuidade que me roubam todos os dias porque é essa ingenuidade que me une a ti. nunca quis crescer e sempre quis crescer. no fundo sempre me foi indiferente desde que sentisse a tua mão no ombro.

sei que não sou má. não sei o quanto sou boa mas o que me assusta mais é cada vez querer saber menos disso.

e eu tenho tentado tanto.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

o que é a tristeza?


a criança e a vida - maria rosa colaço

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

?

não é que não me entre pelo peito a dentro uma imensa metafísica de meter respeito até a agostinho da silva.

não é que não chore com a leveza branquinha das nuvens nem é que não que fique com o corpo dividido a meio por causa da destruição das florestas e com a barbaridade auferida aos animais. até às moscas.

não é que não questione a pobreza de espírito de quem não presta nem a riqueza infinita de quem é bom.

(a natureza humana será sempre um tratado filósofico por escrever e a ambição de a entender fará sempre inveja às grandes descobertas da ciência)

não é que nada disso

mas também gosto de pensar com o teu corpo.