sábado, 10 de dezembro de 2011
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David Mourão-Ferreira
1927-1996
Obra Poética 1948-1988
David Mourão-Ferreira
Editorial Presença
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David Mourão-Ferreira
1927-1996
Obra Poética 1948-1988
David Mourão-Ferreira
Editorial Presença
terça-feira, 13 de setembro de 2011
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
as palavras não fazem dançar
as palavras não valem nada. são um pálido reflexo daquilo que a nossa alma quer dizer mas nunca diz realmente. somos um pote de coisas que pensamos a encher constantemente. entupimos a nossa matéria a cada minuto. podemos reagir ao som das palavras que nos dizem mas nunca reagimos inteiramente porque não sentimos o seu verdadeiro conteúdo. sabemos que quando nos gritam faz sentir coisas más e que quando nos susurram faz sentir coisas boas. tudo o que a isso é intermédio somos um túnel vazio por onde passeia o alfabeto. isso e mais nada.
só os poetas chegam onde mais ninguém consegue. só os bons poetas mas nem esses nos fazem dançar.
sábado, 27 de agosto de 2011
"
perto do mato. atrás da porta. perto da ponte. atrás das águas.
na garrafa sou mensagem mar a dentro. depois da porta.
na garrafa sou mensagem mar a dentro. depois da porta.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
sábado, 20 de agosto de 2011
you?
Charles Bukowski
Bluebird
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?
Bluebird
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say, stay in there, I'm not going
to let anybody see
you.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I pur whiskey on him and inhale
cigarette smoke
and the whores and the bartenders
and the grocery clerks
never know that
he's
in there.
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too tough for him,
I say,
stay down, do you want to mess
me up?
you want to screw up the
works?
you want to blow my book sales in
Europe?
there's a bluebird in my heart that
wants to get out
but I'm too clever, I only let him out
at night sometimes
when everybody's asleep.
I say, I know that you're there,
so don't be
sad.
then I put him back,
but he's singing a little
in there, I haven't quite let him
die
and we sleep together like
that
with our
secret pact
and it's nice enough to
make a man
weep, but I don't
weep, do
you?
primeiro dia de obras num sábado à tarde
porque há momentos em que a nossa casa adoece. primeiro aprodece o sotão e depois os bichos vão comendo tudo devagarinho até chegarem às unhas dos pés, o chão que lembramos sempre como a cozinha da casa da avó. e porque há momentos em que a casa se parte em dois de um sopro e ficamos metade para cada lado ali caídos como uma folha no outono. separa-se o branco do preto, o bem do mal, o amargo do doce e somos só meia gente como quem não termina as palavr.
a nossa casa tinha tanta vida quando ainda não tinha morrido de saudades. tomou um comprido para dormir e morreu como nos romances. só que não morreu, mumificou a fingir num instante contínuo. assim como um para sempre parado.
precisas de obras, pensas. e talvez tenhas razão.
é preciso abrir um buraco na parede para entrar o sol, caiar por fora. mudar o chão do quarto e não me venhas com essa desculpa moderna de que o dinheiro não chega para nada.
a nossa casa tinha tanta vida quando ainda não tinha morrido de saudades. tomou um comprido para dormir e morreu como nos romances. só que não morreu, mumificou a fingir num instante contínuo. assim como um para sempre parado.
precisas de obras, pensas. e talvez tenhas razão.
é preciso abrir um buraco na parede para entrar o sol, caiar por fora. mudar o chão do quarto e não me venhas com essa desculpa moderna de que o dinheiro não chega para nada.
-
queria dizer-te que sinto muita falta do teu colo. não tenhas pena de mim. não quero que tenhas. aliás nunca tiveste e é por isso que eu me encaixo no teu abraço como em mais nenhum outro. estás na minha cabeça todos os dias da minha existência. sem excepção. mas estás sobretudo no meu coração que esvazia a pouco e pouco. queria que me devolvessem a minha ingenuidade, queria que me levasses outra vez ao talho para comprar os bifes de perú e que me contasses repetidamente a história de todos os reis de portugal como sempre fazias. queria só ouvir-te mais uma vez a explicar-me porque se deve praticar o bem independentemente do mal que nos façam. queria ver-te escrever o teu nome com a tua letra tão bem desenhada e queria ouvir-te contar apaixonadamente a história dos teus pais e dos pais dos teus pais e dos nossos primos afastados que nunca consegui decorar. quando me punhas a mão no ombro era como se as mães todas do mundo abrigassem os seus filhos ao mesmo tempo. vou demorar a vida toda a decifrar esta saudade que mata devagarinho e que às vezes também é boa mas quase sempre sufoca. ainda hoje neste vazio imenso que me tapa só a tua lembrança conforta. um bocadinho apenas mas conforta. queria olhar para as tuas mãos outra vez. pensar admiravelmente nas histórias que os anéis contavam lá dentro dos teus dedos.
tenho tantas saudades tuas que quase sempre me esqueço de mim. de como eu era quando tu existias tranquilamente na minha vida e de como tudo era paz. talvez tenha saudade dessa ingenuidade que me roubam todos os dias porque é essa ingenuidade que me une a ti. nunca quis crescer e sempre quis crescer. no fundo sempre me foi indiferente desde que sentisse a tua mão no ombro.
sei que não sou má. não sei o quanto sou boa mas o que me assusta mais é cada vez querer saber menos disso.
e eu tenho tentado tanto.
tenho tantas saudades tuas que quase sempre me esqueço de mim. de como eu era quando tu existias tranquilamente na minha vida e de como tudo era paz. talvez tenha saudade dessa ingenuidade que me roubam todos os dias porque é essa ingenuidade que me une a ti. nunca quis crescer e sempre quis crescer. no fundo sempre me foi indiferente desde que sentisse a tua mão no ombro.
sei que não sou má. não sei o quanto sou boa mas o que me assusta mais é cada vez querer saber menos disso.
e eu tenho tentado tanto.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
?
não é que não me entre pelo peito a dentro uma imensa metafísica de meter respeito até a agostinho da silva.
não é que não chore com a leveza branquinha das nuvens nem é que não que fique com o corpo dividido a meio por causa da destruição das florestas e com a barbaridade auferida aos animais. até às moscas.
não é que não questione a pobreza de espírito de quem não presta nem a riqueza infinita de quem é bom.
(a natureza humana será sempre um tratado filósofico por escrever e a ambição de a entender fará sempre inveja às grandes descobertas da ciência)
não é que nada disso
mas também gosto de pensar com o teu corpo.
não é que não chore com a leveza branquinha das nuvens nem é que não que fique com o corpo dividido a meio por causa da destruição das florestas e com a barbaridade auferida aos animais. até às moscas.
não é que não questione a pobreza de espírito de quem não presta nem a riqueza infinita de quem é bom.
(a natureza humana será sempre um tratado filósofico por escrever e a ambição de a entender fará sempre inveja às grandes descobertas da ciência)
não é que nada disso
mas também gosto de pensar com o teu corpo.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
terça-feira, 31 de maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
quinta-feira, 19 de maio de 2011
" "
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
cecília meireles
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
cecília meireles
quinta-feira, 12 de maio de 2011
para a minha avó
receio que o meu coração seja pequeno para tanto amor que deste.
um dia destes morro de amor por ti porque de saudades já morro a cada instante.
um dia destes morro de amor por ti porque de saudades já morro a cada instante.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
terça-feira, 3 de maio de 2011
"
quando o corpo se abre ao silêncio capas de discos amarelecem ao sol.
digo:
ter o nome debaixo da língua
e ter a íngua morta
é ter a chave da casa da moeda
mas não saber de que porta.
digo:
ter o nome debaixo da língua
e ter a íngua morta
é ter a chave da casa da moeda
mas não saber de que porta.
carta nº 3
gostavas quando o som aumentava o suor do teu corpo em ansiedade. és como eu, um pico na corrente que às vezes vai abaixo. outras vai tão acima que ninguém lá chega. gostavas de levar o corpo ao limite e levaste uma vez de vez.não faz mal já te perdoei.
sem deus e sem nada.
sem deus e sem nada.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
"
gosto muito de saladas; de todos os tipos mas principalmente de salada de frutos da imaginação - disse eu lambendo os dedos e pousando a faca na mesa.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
*sublinhado
"... Depois o silêncio.
E na parte mais densa do silêncio, desce do tecto a aranha que aprisiona a tua infância."
al berto
E na parte mais densa do silêncio, desce do tecto a aranha que aprisiona a tua infância."
al berto
quinta-feira, 31 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
peixe
se eu fosse peixe nadaria de costas
perto da espinha o arrepio é mais romântico.
o nome da cidade onde nadaria seria nada
e viria a dizer nos livros da ciência especializada
que todos os meus vizinhos nadariam como eu,
de costas perto do arrepio.
onde a água sai do corpo e
a febre a seca em momentos de crise social
somos peixes a nadar de costas
apenas isso e as escolas do mundo
continuam iguais, a cuspir poetas.
perto da espinha o arrepio é mais romântico.
o nome da cidade onde nadaria seria nada
e viria a dizer nos livros da ciência especializada
que todos os meus vizinhos nadariam como eu,
de costas perto do arrepio.
onde a água sai do corpo e
a febre a seca em momentos de crise social
somos peixes a nadar de costas
apenas isso e as escolas do mundo
continuam iguais, a cuspir poetas.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
...
estou feliz porque fez ontem 9 anos que a minha avó morreu e no dia anterior 12 que o meu pai morreu
e eu não me lembrei.
e eu não me lembrei.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
||
repara como não mudei nada. repara bem. a franja recorta-se pela linha do meio-pensamento como de costume.
as riscas da camisola ainda guardam entre si a mesma distância milimétrica. o fio dos lábios continua a coser as coisas que não me saiem da cabeça num eterno patchwork. nada muda e eu muda.
talvez seja esse o meu tesouro enterrado no fundo mar que não encontras.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
domingo, 6 de fevereiro de 2011
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
conversas prováveis
- quem não leva uma piada a sério é porque nunca chorou com um samba.
- porquê?
- não sei nem quero saber.
- porquê?
- não sei nem quero saber.
domingo, 30 de janeiro de 2011
o escuro
ela não poupa energia porque dança à volta de uma lâmpada antiga.
ela acende o que eu apago.
ela acende o que eu apago.
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
borda d' água
desenhar é esgravatar sentidos na alma das coisas.
peso, forma e volume se agigantam dentro das unhas sujas.
a terra dá o que os poetas sonham.
peso, forma e volume se agigantam dentro das unhas sujas.
a terra dá o que os poetas sonham.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
dizia assim:
quase sempre sou quase tudo
mas quase nunca o suficiente
para ser o bastante.
e depois também dizia assim:
um dia vais querer abrir a porta que fechaste
e se deus quiser ou outro amparador de almas qualquer,
vais entalar a mão que não me deste.
mas quase nunca o suficiente
para ser o bastante.
e depois também dizia assim:
um dia vais querer abrir a porta que fechaste
e se deus quiser ou outro amparador de almas qualquer,
vais entalar a mão que não me deste.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
ouvir melhor.
perdes as palavras quando precisas de ouvir. distrais-te com facilidade e eu ando atrás de ti como no parque a ver se não cais do baloiço. de cá para lá é um instantinho enquanto te perco. sua enguia, não vês que a beira do rio não é estar com os pés dentro de água?
digo eu em grego por isso ouve melhor.
digo eu em grego por isso ouve melhor.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
morte súbita
quem imaginava que te parava o coração aos cinco minutos do segundo tempo?
- eu, disse olhando o campo.
- eu, disse olhando o campo.
mutação
auto da confissão (também não é um stand automóvel)
tanto me faz que alguém mude do pé para a mão
desde que não ponha o fígado no lugar do coração.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
carta nº2
queria falar-te que tudo corre bem e que a mãe foi operada. não é nada de complicado, apenas uma pequena cirurgia. perguntar-te como está a avó será uma redundância, espero que ela esteja a tomar conta de ti como de resto sempre tomou. de todos nós eu diria.
não sei se tens frio mas o inverno passeia-se por aqui ameno, mas tu sabes como é alcobaça, nunca se pode garantir frio no frio nem calor no calor. não sei como anda o sporting e para te ser sincera não tenho paciência para saber. sempre achei uma certa graça ao teu clubismo doentio e tenho que confessar que tinha muito orgulho em não seres como os outros todos, do benfica. não pelo benfica mas por não seres da maioria. como se a maioria alguma vez te assentasse bem. tenho pena que já não tenhas o prazer de dar festinhas nos animais como tanto gostavas. eu dou por ti, não te importes se aí não deres. ontem vi aquele desenho que te fiz quando era pequenina e tive a mesma sensação de cada vez que o vejo, de ser bom fazer-te uma surpresa mesmo que aparentemente não ligasses a essas coisas mariquinhas. porque tu és homem. dos típicos, daqueles a quem não lhes ocorre absolutamente mais nada a não ser o facto de serem homens. gostava que tivesses sido mulher. podias ter sido a minha mãe e ela podia ter sido tu. serias a mesma força da natureza. incomparável, não tenho dúvidas. podíamos ter conversado mais, tu sabias bem que eu te adorava. assim como eu também sabia. nunca me disseste e eu nunca te levei a mal porque eu sabia que éramos iguais. mas tu foste embora e eu agora tenho que ser os dois.
p.s. escrevo-te mesmo sabendo que isso possa ser rídiculo.
não sei se tens frio mas o inverno passeia-se por aqui ameno, mas tu sabes como é alcobaça, nunca se pode garantir frio no frio nem calor no calor. não sei como anda o sporting e para te ser sincera não tenho paciência para saber. sempre achei uma certa graça ao teu clubismo doentio e tenho que confessar que tinha muito orgulho em não seres como os outros todos, do benfica. não pelo benfica mas por não seres da maioria. como se a maioria alguma vez te assentasse bem. tenho pena que já não tenhas o prazer de dar festinhas nos animais como tanto gostavas. eu dou por ti, não te importes se aí não deres. ontem vi aquele desenho que te fiz quando era pequenina e tive a mesma sensação de cada vez que o vejo, de ser bom fazer-te uma surpresa mesmo que aparentemente não ligasses a essas coisas mariquinhas. porque tu és homem. dos típicos, daqueles a quem não lhes ocorre absolutamente mais nada a não ser o facto de serem homens. gostava que tivesses sido mulher. podias ter sido a minha mãe e ela podia ter sido tu. serias a mesma força da natureza. incomparável, não tenho dúvidas. podíamos ter conversado mais, tu sabias bem que eu te adorava. assim como eu também sabia. nunca me disseste e eu nunca te levei a mal porque eu sabia que éramos iguais. mas tu foste embora e eu agora tenho que ser os dois.
p.s. escrevo-te mesmo sabendo que isso possa ser rídiculo.
domingo, 2 de janeiro de 2011
sossego
tudo o que em ti se acende em ti se apaga e se volta a acender. tens uma montanha dentro do teu peito e eu umas botas de escalada. de noite vou lá ver as estrelas e guardar os carneiros que roubei sorrateiramente ao teu sono. o teu chão é macio e quente, vem de pés descalços. vais gostar de lá ir, afinal é um sossego.
post it
as letras aninham-se umas nas outras como bichos. eu nelas me aninho. sopram bocadinhos de lã fiada e é nesta camisola que me aqueço. teço sem explicação e sem verdade. e sem mentira também. é o inverso da água parada.
é a apoteose do acaso. é um fogo de artíficio em junho, recado escrito no céu.
é a apoteose do acaso. é um fogo de artíficio em junho, recado escrito no céu.
correcto
tento cienciar o brilho, a chuva fininha e o rasto de uma nuvem. nada se confirma nem apaga e a felicidade espelha-se pelo meu corpo abaixo. infinito é o mistério de nada saber a não ser que tenho sede e que é água que me falta. os adornos da filosofia são contas enfiadas num colar. objecto vulgar da semi-vaidade.
cada silêncio é uma resposta certa de vinte valores.
cada silêncio é uma resposta certa de vinte valores.
geografia
no fundo dos olhos há um quintal. atrás de mim um rio que lava lençois brancos. à minha frente moram casas.
dentro delas moram muros que subo para ver céus mais de perto. tudo o que gira em torno do mundo se parece irremiavelmente com abraços prolongados. dias de braços curtos são dias fora do mundo onde cada segundo é um ano bissexto de coisa nenhuma. ninguém nasce nem ninguém morre neste quintal. é um eterno ficar-parado a subir.
dentro delas moram muros que subo para ver céus mais de perto. tudo o que gira em torno do mundo se parece irremiavelmente com abraços prolongados. dias de braços curtos são dias fora do mundo onde cada segundo é um ano bissexto de coisa nenhuma. ninguém nasce nem ninguém morre neste quintal. é um eterno ficar-parado a subir.
de cor
o corpo fala de coisas espalhadas no chão do jardim como se não lhe faltassem letras no teclado.
letras não morrem apenas são enterradas nas passadas pela terra macia. o corpo fala com a língua da pele e pela madrugada fora coleciona estrelas que se acendem fora do brilho delas, no brilho do corpo.
dicionários encavalitam-se nas bibliotecas à procura do teu significado. tens um adjectivo à mesa de cabeceira que não usas a não ser em dias que procuras a tua pele. uma romã cresce-te então no epicentro voraz da quietude.
tu comes e às vezes divides.
letras não morrem apenas são enterradas nas passadas pela terra macia. o corpo fala com a língua da pele e pela madrugada fora coleciona estrelas que se acendem fora do brilho delas, no brilho do corpo.
dicionários encavalitam-se nas bibliotecas à procura do teu significado. tens um adjectivo à mesa de cabeceira que não usas a não ser em dias que procuras a tua pele. uma romã cresce-te então no epicentro voraz da quietude.
tu comes e às vezes divides.
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